Seja bem vindo

"A literatura insinua e coloca questões muito mais do que as responde ou resolve."

-------------------Milton Hatoum, escritor brasileiro



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quarta-feira, 30 de junho de 2010

UM HOMEM CHAMADO MACÁRIO

UM CAFEZINHO E... EU PAGO A PROSA

O evento da Internet foi um enorme avanço para a comunicação e o relacionamento das pessoas e, em particular, para a literatura. Ela permitiu que as notícias, conhecimentos e informações chegassem mais rapidamente ao público; que se vencesse a atemorizante timidez; que se divulgasse aquilo que se pensa sem a necessidade de se publicar num periódico ou revista impressa; e ainda proporcionou uma série de outras possibilidades. Aproximou as pessoas, criou laços (virtuais) até então nunca existentes. Através dela foi permitido a escritores, poetas e todos aqueles que gostam de escrever, que “publicassem” suas obras, suas criações.

A partir de 01 de julho de 2010, passo a compartilhar uma de minhas obras inéditas com o grande público internauta. Afinal, todo escritor deseja que suas obras sejam lidas, apreciadas, devoradas por aqueles que gostam de uma boa leitura ou simplesmente por aquele leitor eventual que busca uma boa obra nas prateleiras de uma livraria. Um Homem Chamado Macário é um romance para o qual fiz uma longa pesquisa, visitei os lugares onde ele ocorre, coloquei os personagens em ação no contexto físico, para que a narrativa tivesse verossimilhança. Ele é intenso e acredito que emocionará o leitor por seu vigor, dinamismo, leveza. Sua densidade prenderá o leitor mais desavisado, que ficará ansioso pela postagem seguinte.

Gostaria que aqueles que lerem o romance Um Homem Chamado Macário, opinem, deixem sua real impressão da obra que foi feita para vocês, que tanto me honram com suas visitas ao meu blog.

Felicidades e boa leitura.

terça-feira, 22 de junho de 2010

POÇOS DE CALDAS E O DETETIVE JULES D’ARCO

Em visita de férias a uma das mais belas cidades do Brasil tive a grata oportunidade de conhecer algumas pessoas adoráveis, hospitaleiras e muito atenciosas. Trataram-me com dignidade, educação e distinta atenção, qualidades que depois, passeando e comprando nas lojas e supermercados da cidade, puder perceber que representam o cartão-postal da cidade de Poços de Caldas, município que possui a melhor qualidade de vida do Estado de Minas Gerais.

Passados alguns dias percorrendo pontos turísticos, conheci locais paradisíacos, como o Cristo Redentor, localizado no alto da Serra de São Domingos, monumento que impressiona por seu tamanho e beleza, lembrando o mesmo Cristo Redentor do Rio de Janeiro, como que a abençoar esta cidade maravilhosa e proporcionando belíssima visão de toda a região. Depois conheci o Complexo Cultural da Urca, que abriga o espaço cultural da cidade, com um teatro com capacidade para 500 pessoas e onde abriga anualmente, dentre outras atrações, a Feira Livro de Poços de Caldas; a bela cachoeira Véu das Noivas; o paradisíaco jardim Recanto Japonês, que é a réplica de um jardim da cidade de Kioto, construído na década de 70; e outros pontos e recantos muito bonitos e aprazíveis. Mas o que mais me impressionou foi a aparência das edificações, a limpeza e sinalização urbanas, a organização paisagística e planimétrica da cidade e a educação apresentada pelo povo que reside e trabalha naquela cidade. Não há como não gostar de cidade mineira tão bela, aconchegante e bem estruturada.

Finda as férias, retornei ao lar, meu doce lar, e não poderia deixar de ser, ao meu computador. Ideias surgiram devido ao que vi e ouvi em Poços de Caldas. As amizades permaneceram e mantiveram contato, através de e-mail e por visitas ao meu blog. Devido a pedidos dos amigos poços-caldenses e pelo carinho que passei a ter pela cidade, passarei a escrever periodicamente algum artigo relacionado a esse pedaço de terra mineiro, tão belo e agradável. E meu carinho e admiração pela cidade se tornaram tão grandes que começarei com a postagem de um conto, no qual faço a estréia de um personagem que há muito deseja se tornar público. Ele é obstinado em seus anseios e me procura todas as noites, enquanto estou a digitar um conto ou crônica, ou simplesmente a ler mais um romance, pedindo que eu o liberte da clausura de minha mente, que eu compartilhe suas façanhas e suas aventuras com o público em geral. E como eu o conheço muito bem, muito virá por aí.

Jules D’Arco é um homem inteligente, observador, criativo e de raciocínio rápido. Vocacionado para atividade policial, ele é perseverante em seus propósitos, sendo um incansável investigador. Age muitas vezes baseado em sua intuição e instinto, obtendo bons resultados em suas investigações. Hábil lutador, não guarda raiva, ressentimentos ou qualquer sentimento de revolta para com os outros. Por possuir capacidade de observação aguçada, vê o que os outros deixam escapar e...bom, vocês vão conhecê-lo. Ele é um dos meus presentes para Poços de Caldas e para toda a população que aí vive. Parabéns. E bom entretenimento e informação, lema deste veículo de lazer e cultura.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O BOLÃO DA COPA DO MUNDO

A tríade predileta do brasileiro – futebol, cerveja e mulher – tornou-se forçosa presença na apoteótica Copa do Mundo. Neste período de grandiosas alegrias e temerosas frustrações, a turma do Dagoberto abandonava suas famílias e reunia-se na casa do Onofre, o mais ladino e cafajeste do grupo de seis marmanjos que adoravam assistir os jogos do embate mundial.

A família de Dagoberto era a mulher Josineide e sua filha Suelen. A esposa era do lar, recatada, barrado do vestido no joelho, assídua frequentadora das missas dominicais e tinha clara aversão ao futebol. A filha era uma bela jovem curvilínea, de dezessete anos de idade, submissa ao poder matriarcal e sedenta por conhecer os prazeres da vida.

Este núcleo familiar desintegrava-se a cada quatro anos, quando chegavam os jogos da Copa do Mundo. Dagoberto era tomado por uma veemente inquietação, e anunciava sua evasão solitária para a casa do Onofre, na qual a televisão tinha várias polegadas, a cerveja era distribuída em abundância e não havia proibição alguma para a gritaria ou a discussão futebolística. Josineide a cada jogo recolhia-se à igreja, a rezar, ou à casa de uma amiga beata, a tricotar. Falar em futebol e bebida com ela, nem pensar. Os amigos perguntavam, curiosamente, a Dagoberto como o casal vivia em evidente harmonia e felicidade, em vista do contraste de personalidades e comportamentos que apresentavam. Sem resposta. Este inusitado contexto familiar desarticulou-se, ainda mais, a partir do momento que Suelen completou doze anos de idade. Nos períodos futebolísticos, a independente morena em desabrochar perturbador também fugia de casa e reunia-se com suas amigas na casa de uma delas. Ali era outra algazarra impelida por coca-cola e pipoca na hora dos jogos do Brasil.

Em todas as Copas do Mundo, o Onofre surgia com uma novidade em termos de entretenimento durante as disputas televisivas. Uma vez foi um bingo no qual o ganhador levava uma caixa de cervejas. Em outra oportunidade foi o sorteio de uma viagem com a família a uma das praias cariocas, com todas as despesas pagas pelos outros cinco amigos – eles moravam em São Paulo – e que acabava com uma feijoada no retorno. Numa outra foi o sorteio de uma cartela de ingressos para jogos no Morumbi durante um ano. As ideias surgiam; ocorria a votação; aprovado o entretenimento; a bola rolava em campo e a alegria entrava na casa do Onofre.

Na última peleja mundial surgiu a ideia de um bolão de apostas. Mas um bolão diferente. Quem ganhasse a aposta receberia como prêmio passar o jogo seguinte em companhia de tantas garotas de programa quantos fossem os gols acertados no bolão. No caso do empate, a vitória seria disputada no “palitinho”. Quem custeava o programa e o motel eram os outros cinco cafajestes. Toda a ação seria executada no maior sigilo e discrição. Dos seis parceiros, apenas quatro eram casados e não queriam desestruturar seus lares. A seleção que ganhasse a disputa trazia alegria ao grupo e premiava o ganhador do bolão. Durante os jogos, todos ficavam agitados e apreensivos pelo resultado final. Mais do bolão do que da disputa propriamente dita. Afinal, o ganhador passaria ardentes momentos de prazer ao lado de uma, duas ou até três garotas, conforme o resultado apresentado no placar eletrônico do estádio.

Dagoberto preparava-se para ir para casa do Onofre. Transcorridos metade dos jogos e ele ainda não fora contemplado nenhuma vez. Josineide era puritana. Na mesa e na cama. Na mesa, apenas comidas com pouca ou nenhuma gordura. Na cama, cedia ao papai-e-mamãe como única posição amorosa e, olhe lá, se o marido pensasse em voz alta numa variação qualquer, por mais simples que fosse. Dagoberto estava em atraso e o casamento passava pela fase do sal. Insosso, insosso, em quase todos os momentos. Ele queria um pouco de ação, uma apimentada no sexo e sabia que não podia esperar muita coisa de sua companheira matrimonial. Aproximava-se a hora de mais um jogo. Camisa da seleção canarinho no peito, difusão de alegria e bandeira nacional nas mãos. Era a Copa do bolão e até aquele momento quatro dos cafajestes foram contemplados com a sorte grande. Alguns mais de uma vez e Dagoberto continuava na seca. Os felizardos contavam vantagens da sacanagem que rolava no motel.

- A garota era peituda e fazia uma espanhola de enlouquecer, rapaz...

- A que eu fiquei tinha a bunda mais gostosa que eu já vi... pedi para fazer um gol na linha de fundo e ela gostou e pediu bis...

- Saí com duas, uma morena e uma loira, que gatas!... muito obrigado, muito obrigado, amigos...

- E eu, e eu? Saí com uma que jogava um bolão... adorava duas bolas...

As piadas e façanhas adocicavam o paladar de Dagoberto. Ele sempre fora fiel, mas sua tolerância chegava ao fim. Queria esquecer a falta de dinheiro e seus desdobramentos, aqueles que lhe traziam tantas dores de cabeça e dores no bolso. Queria esquecer o “impedimento” quando passava por ele um par de nádegas insinuantes. De um lado da sala, ele calçava o tênis com celeridade. Do outro, surgia a filha com uma blusa justa e uma minissaia que não escondia o estro que despontava no horizonte de sua juventude. Ele olhou surpreso para Suelen. Meneou a cabeça onde já se estabelecera a hegemonia dos grisalhos.

- Tô indo para o bolão na casa do Onofre – disse o pai em voz alta.

A filha o encarou e sorriu.

- Pai, eu também tô indo para o bolão... da casa da Vanessa – retrucou a filha num tom coquete, saindo rebolativa de casa.

O pai achou estranha a coincidência.

Vou para o bolão da sacanagem e minha filha, também vai para um bolão?... bobagem, são minhocas da minha cabeça... a Josineide mantém essa garota no laço, pensou ele.

Súbito, a mulher apareceu com um vestido cobrindo até o pescoço e a Bíblia presa ao peito.

- Que bolão é esse que a Suelen tá indo? – perguntou Dagoberto.

- Ora, eu sei lá!... você também não está indo para o tal bolão na casa do Onofre? Deixa a tua filha em paz, eu já orientei ela para ficar na casa da amiga e se manter recatada... já vou indo, até mais tarde.

- Até mais... – disse o marido a observando desaparecer pela porta da sala.

Minutos depois, ele gritava desesperadamente a cada lance executado na peleja.

- Vamos lá Brasil! Eu vou ganhar esse bolão, eu vou ganhar!

Ocorria um riso coletivo dos amigos em relação à apreensão e expectativa de Dagoberto. Ele estava nervoso, gritava aos quatro cantos, suplicando que a sorte o contemplasse. O cenho porejava. A camisa ensopava-se de suor. A garganta estava dolorida de tanto gritar. Se a cerveja estava quente, não mais importava. Apostou que o jogo do Brasil contra a França terminaria em 1X0 e o segundo tempo chegava ao fim e nada de gol. Os minutos passavam e o desespero de Dagoberto recrudescia. Os amigos achavam que ele teria um colapso, caso não se acalmasse. Menos de dois minutos para o término do jogo. Não mais se ouviam gritos da torcida brasileira. No estádio ou na casa do Onofre. Súbito, Ronaldinho Gaúcho chutou forte e a rede espichou para trás. Gol do Brasil. O sibilar do apito terminou a disputa. Todos se entreolharam. Apenas um dos cafajestes pulava entusiasmado. Dagoberto foi o vencedor. Buliçoso, correu e abraçou Onofre, que coordenava as apostas.

- Ganhei! Ganhei!Ganhei!

Dois dias depois estava o Dagoberto na sala de casa novamente calçando o tênis para ir para o bolão. Ele sorria à toa. A mulher passou pela sala e resmungou algumas palavras de penitência que ele não entendeu. A filha, mais célere e alegre do que a última vez, passou pelo pai e disse que estava indo para o bolão na casa da amiga. O pai estranhou novamente a coincidência.

Que bolão será esse, para ela estar tão alegre?!, pensou Dagoberto.

Seu tesão era tão grande que o arrastou vertiginosamente em direção ao motel. O quarto estava reservado pelo grupo. Era só entrar, tirar a roupa no banheiro e aguardar dois toques na porta. Esse era o combinado pelo grupo, para causar mais impacto na hora da transa com a garota de programa. Dagoberto entrou no quarto e parou diante da televisão que já estava ligada. Passava um filme pornô. Sua libido disparou. Ele foi para o banheiro. Ficou totalmente nu, aguardando as pancadas na porta. Sua excitação era tão intensa, que logo que tirou a cueca, sua língua de sogra virou um bastão de basebol. Como seria a garota? Baixa, morena e de bunda grande? Loira, esguia e peituda? Não importava como fosse, a profissional do sexo deveria levá-lo à loucura, como os amigos contavam. Ele estava há semanas, não, há meses sem fazer sexo, sem fazer um sexo verdadeiro, ardente, enlouquecedor. Dormia com uma geladeira, que nem tinha comida para lhe proporcionar algum prazer. A mulher conversava sobre o lar, vizinhos, trabalhos beneficentes, penitências e dormia. Ele queria sexo, lambe aqui, agarra ali e tudo mais. Olhou apreensivo para o relógio. O jogo já começara e a garota ainda não aparecera. E o taco mais duro que casca de coco. Ele não podia mais esperar, ia acabar tendo uma ejaculação precoce ali, se demorasse mais algum tempo. De repente, um ruído. Ele ficou imóvel. Alguém bateu na porta ou sua imaginação estava lhe pregando uma peça? Novamente uma pancada. Fraca, tênue. Sim, era ela, sua musa chegara e ele não mais podia esperar. Num movimento brusco, abriu a porta e se deparou com o corpo maravilhoso de uma mulher. Seus olhos se arregalaram. Ela era morena. Estava bronzeada pelo sol. A marquinha do biquíni se evidenciava. E estava de costas e de quatro. De quatro para ele. Na posição preferida do mais oprimido dos cafajestes.

- Vem, vem, faz teu gol... – murmurou a garota.

A voz era rouca e estranha. Mas o que importava a voz. Ele queria era boca fechada, ou melhor, aberta e frenética. Dagoberto avançou sobre a garota como um animal ensandecido. O taco em riste e a boca salivante de tanto desejo.

- Vem, vem, gostoso... – murmurou a garota.

No limiar da união das partes, ela virou o rosto. O tarado parou de repente. O que saiu de sua boca foi um enorme grito:

- NÃO!!!

Tão assustada, quanto ele, a garota pulou para frente, sentando-se na cama.

- SUELEN!!!

- PAPAI!!!

Pálido, Dagoberto colocou as mãos no peito no momento que virou os olhos. Seu corpo tombou para trás e ele caiu com força no chão. Para a filha foi menos doloroso. Ela desmaiou batendo a cabeça num grupo de almofadas que estavam sobre a cama redonda. Ali estavam ganhadores ou perdedores de um mesmo bolão. O bolão da Copa do Mundo.