A beleza da vida está na paz, no amor, na alegria, na satisfação de realizar-se. Esta visão luminosa está ao longo dos anos desaparecendo. A violência tem se apresentado em nossas vidas em quase todos os momentos. E exemplos verídicos é que não faltam. O notório seqüestro do ônibus 174, no Rio de Janeiro; a morte da pequena Isabela Nardoni, aparentemente perpetrada pelos pais; o assassinato da jovem Eloá em Santo André, causada por seu insano namorado, o jovem Lindemberg; o assassinato do cartunista Glauco, criador do famoso personagem “Geraldão”, e de seu filho, por um amigo do próprio filho; e tantas outras atrocidades não menos relevantes que deixaremos de no momento apresentar. Deparamo-nos com a violência na televisão, através dos noticiários; nos acidentes envolvendo veículos nas ruas e estradas; nos seqüestros hediondos; nos assassinatos, tiroteios e crimes retratados pelos jornais. A violência se tornou um fato banal, como o próprio povo pronuncia “faz parte” do nosso cotidiano tão turbulento. E põe turbulento nisso.
A violência, se podemos assim caracterizar, é o fluido que corre nas “veias” dessa entidade conhecida como crime. Cruel e impiedoso em sua essência, o crime transmuta as pessoas, sejam elas crianças, jovens, adultos ou velhos. Nossas crianças estão se tornando jovens brutais e, conseqüentemente, adultos violentos pela falta de valores. O crime está soterrando progressivamente os valores que tornam digna nossa sociedade. Integridade, honestidade, educação, correção de atitudes, respeito, cordialidade e tantos outros valores estão, há muito tempo, desaparecendo da esfera social. Hoje em dia é visto como “correto”, como camarada, aquele que perpetra um pequeno e ingênuo ato de corrupção aqui ou outro ali. Paradoxalmente ser criminoso passou a valer a pena. É uma forma de chegar ao estrelato. E porque tantas pessoas se entregam a “arte” do crime? Por que tantos jovens e adultos matam, roubam, seqüestram, comercializam drogas? Em tese, quando perdemos alguma coisa, outra deverá substituí-la. A natureza humana nos leva a isso. A sociedade perde a cada dia seus valores e eles estão sendo substituídos pelos valores do crime. Ser bandido, traficante, assassino, corrupto ou corruptor proporciona status, importância, brilho a sua personalidade. É prazeroso para o jovem ser venerado pelos colegas que, como ele, atuam no crime. É demonstração de poder e grandeza para o adulto transgredir violentamente e a justiça se quer tocá-lo, dando-lhe ainda destaque nos jornais televisivos. E porque o ser humano é seduzido a atuar no crime? Em todos os níveis e classes o crime seduz visceralmente o homem: proporciona-lhe emoção, prazer e poder. Estes são os valores do crime, que explodem na forma de adrenalina na mente e no espírito do ser humano, a mesma adrenalina que os esportes radicais trazem àqueles que possuem dinheiro para praticá-los.
Infelizmente, a mídia televisiva tem contribuído notadamente para a queda dos valores que me referi no parágrafo anterior. Ela enfoca o criminoso como alguém poderoso, intrépido, que possui muitos bens desejáveis por todos e que a Justiça, caso o tenha alcançado, logo o deixará escapar das grades, seja pela ação deturpada dos direitos humanos, seja pela própria fraqueza estrutural que a rege. Tornou-se comum vermos um assassino cruel frequentar a mesma passarela que personalidades do show business desfilam. Essa falsa valorização estampa-o como “um exemplo a ser seguido”. O criminoso não é mais visto como figura emblemática do mal, ícone da perversidade. Não se exige com rigor que ele seja retirado das ruas, punido e, se possível, reabilitado ao convívio social. Sua presença e atuação são encaradas como fato trivial, pois é considerado como mais um componente da sociedade. O inusitado glamour que o envolve permite que ele assim permaneça em nosso meio, contaminando irrestritamente todas as mentes que se deixam aliciar por sua natureza perniciosa. Aqueles que valorizam a vida em sua expressão mais pura e significativa devem se articular no sentido de uma sociedade mais íntegra, mais digna. Devem resgatar os valores supracitados e já tão esquecidos e fazer com que tornem a vigorar nos bancos escolares, nas ruas, no trânsito, nos supermercados, nos shopping centers e principalmente em nossos lares. A sociedade é a família num contexto mais amplo. Se minimizarmos a violência em nossos lares, através do diálogo, do carinho, da compreensão e da disciplina, certamente o crime perderá adeptos a sua causa.