Passados o dia das Mães, o dia dos Pais e o dia da Criança. E o dia dos Filhos? A sociedade instituiu a tradição de comemorarmos estas datas em louvor a seres que nos são tão importantes. São datas nas quais compramos presentes, proporcionamos significativos lucros ao comércio e ao mercado financeiro, bem como concedemos alegrias a entes queridos. É claro que estas homenagens são pertinentes e tem fundamento. No caso dos pais, homenageia-se a presença paterna que indiscutivelmente nos serve de modelo na infância e juventude, fornecendo-nos os parâmetros da autoridade, da razão, do controle, do poder, da força e da figura masculina. O pai é aquele ser humano que se ausenta a maior parte do dia do lar, que é visto e que se tem contato normalmente à noite e nos finais de semana, que pouco contato tem com os filhos enquanto está ativo, trabalhando efetivamente, que provê o sustento e os recursos que trazem a sensação de conforto e segurança. A deferência às mães é um marco na ocorrência de datas festivas. A mãe é o referencial feminino, que antes de ser mãe, é mulher, musa inspiradora, figura que seduz pais e filhos por sua bondade, benevolência, espírito de preservação, carinho, meiguice. A mãe é o primeiro ser humano que tomamos contato, que nos embala desde os primórdios da vida, que nos supre de alimentos desde a fase fetal até a velhice, na maioria dos casos. A figura materna representa os sentimentos, as emoções que nos impulsionam a vida, que nos ensina a descobrir o sentido do amor, da paixão. Existe uma ligação natural, física e emocional, entre os filhos e a mãe pelo fato dela ser o elemento gerador da vida. No núcleo familiar, a mãe é vista como indivíduo conciliador, que fomenta a harmonia, que se constitui no ponto nevrálgico da entidade que chamamos de família. Em relação às crianças, a data não se furta ao estímulo das compras, da abertura de pomposas e coloridas embalagens e da troca gratificante de sorrisos e manifestações de carinho e apego. As crianças fazem do dia destinado a elas um evento singular, em que os presentes que recebem significam não somente a materialização de sonhos e prazeres, mas principalmente a compreensão de essências que passam a descobrir, como carinho, alegria, atenção, entretenimento, valor que possuem para os pais. Estimulamos a perpetuidade do dia da criança porque no fundo, nunca se apagará dentro de nós a criança que um dia fomos e que nunca deixará de existir, por mais que se negue este fato. Nosso caráter, temperamento, qualidades, atributos, quando adultos, foram formados e manipulados lá no passado, em nossa infância e juventude, bem como nos temores, traumas, frustrações e defeitos. A criança representa docilidade, fragilidade, piedade, compaixão, bondade, imaturidade, insegurança, irresponsabilidade, futuro, essências que carregamos para sempre dentro de nós, que valorizamos e que nem sempre podemos praticar. A criança representa, aos olhos dos adultos, parte de uma existência que mantemos em nosso íntimo e que norteia a fase adulta.
Muito louvável comemorar o dia dos Pais, das Mães e da Criança, mas e os filhos? O que os filhos representam no plano social, psicológico, familiar? A sociedade laureia pais, mães e crianças não somente pelo que significam emocionalmente no contexto psicológico do ser humano, mas precipuamente pelo teor mercadológico das datas, pelo retorno financeiro que oferecem ao mercado financeiro e afim. O presentear pais, mães e crianças em suas datas comemorativas é engrenagem relevante no espectro econômico, faz girar o capital retido em aplicações financeiras, poupanças, colchões e cofrinhos. Percebe-se, sem dificuldades, que campanhas publicitárias empoladas explodem em períodos que precedem as respectivas datas. Por isso não passam em branco. Sem tergiversar, porque não se institui uma data comemorativa aos filhos? Eles são merecedores de tal reverência. Filhos são crianças que cresceram e que cuidaremos até o momento que deixarmos de existir, seja orientando, acarinhando, aconselhando. O filho é aquele ser que vimos nascer, ensinamos a caminhar, que amamos, educamos, desejamos sua vitória (que não deixa de ser a nossa),que no decorrer dos anos passa a apontar nossos defeitos, que passa a cuidar de nós quando já não mais podemos caminhar sozinhos. Filho é uma das razões da existência da família. Não costumamos nos referir a uma família sem filhos, quando muito dizemos: “... aquele casal...”. Filho é um projeto de vida que investimos além do nosso, daquele que construímos ao longo de nossas vidas. Filho, além de geneticamente semelhante, é o herdeiro de nossas características, de nossos princípios, de nossa riqueza psicológica e emocional. Filho nos renova, nos traz mais brilho à vida, ao coração, ao espírito. Filho é uma dádiva divina na qual somos nomeados defensores perpétuos. Filho é par e parcela, amor e alegria, entusiasmo e emoção. Filho é semente que brota e nos enobrece, que nos mostra que sem ele, nossa missão está incompleta, inacabada. Filho é a crença de que sempre seremos lembrados, bem ou mal, em seu coração, em sua mente, ou no preenchimento de um formulário em que se solicita a filiação. Filho é a referência que nos guia até a derradeira separação que há de ocorrer e que, tanto para ele, como para nós, será extremamente doloroso quando acontecer.
Por estas e tantas outras considerações, acredito que os filhos deveriam ser laureados, deveriam ter um dia deles, no qual os pais sairiam acompanhados dos filhos, iriam ao shopping, ao parque de diversões, à partida de futebol no estádio ou no campinho da várzea, assistiriam a um vídeo da preferência deles, comeriam um bom churrasco, sentariam na varanda de casa e colocariam o papo em dia, ou simplesmente, ficariam deitados na rede ouvindo uma boa música em contemplação das ondas do mar. Seja pai, seja mãe, não deixe de lado a figura do filho. Se a sociedade não cria, crie você o dia dos Filhos em sua casa, em sua família. Não deixe que eles pensem que são elementos irrelevantes ou inconscientemente esquecidos no mundo que você existe.
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