Qual o maior dos pesadelos dos homens? Traição? Impotência? Pobreza? Todos têm uma solução, que pode não ser a melhor, mas têm. Entretanto, como escapar, como fugir ao poder que emana dos cargos que agora passam às mulheres?
Não é ficção ou coisa do gênero. As mulheres, em maioria na população mundial, estão avançando de forma avassaladora nos redutos masculinos. Mas esta história não começou agora. Ao longo dos anos, diversas conquistas e certames femininos trouxeram direitos às mulheres de todo o mundo. Mas nenhum movimento teve repercussão tão severa quanto a chegada da pílula anticoncepcional ao comércio mundial. Este contraceptivo foi lançado em 1960, nos EUA, e sua aparição causou efeitos colaterais muito além do esperado. Não ocorreu, como muitos esperavam, a simples alteração no processo natural de reprodução. A pílula proporcionou significativa mudança no estilo de vida, tanto do homem, como da mulher. A esta concedeu, num primeiro momento, a liberdade sexual, para depois estimulá-la a rebelar-se contra valores de uma sociedade que considerava moralista e conservadora. Permitiu importantes mudanças comportamentais, dando segurança e maior liberdade às mulheres, bem como promovendo avanços nos direitos femininos. A mulher descobriu sua capacidade de ousar, de vencer barreiras antes vistas como intransponíveis. Este novo patamar no universo feminino consentiu autonomia e liberdade de ação, propiciando uma maior flexibilização dos valores morais e uma grande evolução na história da sociedade: o ingresso definitivo da mulher no mercado de trabalho.
A mulher, desde os primórdios, foi concebida pelo Criador para com o homem reinar sobre o mundo que passaria a viver e não para lhe ser submissa, escrava de todos os seus desejos e vontades. Do homem extraiu uma costela e modelou a mulher, para que ela fosse ossos dos seus ossos, carne de sua carne e não um serviçal ao seu domínio. A pílula anticoncepcional propiciou a revolução de comportamento que mudou o estilo de vida e as escolhas das mulheres. Alterou as relações entre o homem e a mulher e, consequentemente, o sistema familiar. Possibilitou que a mulher se arrojasse além dos limites impostos pelo casamento, espectro no qual ela cumpria o papel e os deveres de esposa e mãe, impingidos pelo sistema patriarcal. Liberta do confinamento da estrutura familiar, a mulher ingressou no mercado de trabalho, condição fundamental para sua irrestrita e ampla emancipação. Este ingresso teve profundos efeitos não somente no âmbito familiar, mas principalmente nos planos social, político e econômico.
As mulheres-de-ontem agiam e pensavam baseadas nos princípios patriarcais. As mulheres-de-hoje conscientizam-se de sua condição feminina e familiar, num mundo de oportunidades que a elas se abre, permitindo o desenvolvimento de suas capacidades. Arrojam-se na literatura, na política, na economia, nas artes e no mercado de trabalho em geral. Conseguiram direito ao voto, ao estudo, a ocupar cargos políticos, militares e em diversas profissões do mercado de trabalho, que eram consideradas como “exclusividades” masculinas. A mulher descobriu que é tão capaz quanto o homem e que tem a seu favor aquilo que o universo masculino chama de “sexto sentido”, que é nada mais nada menos que sua sensibilidade, sua apurada acuidade. Hoje é comum encontrarmos mulheres em cargos de chefia, empresárias, políticas, professoras, gestoras. Por terem convivido em famílias tradicionais e sociedades conservadoras, essencialmente masculinas, elas assumem posturas muito semelhantes, reproduzindo práticas centralizadoras ou ditatoriais, características do sexo masculino, agindo da mesma forma que os homens, ou até de maneira mais intensa.
Para se ter uma breve ideia do irreversível avanço feminino no mercado de trabalho, na Advocacia-Geral da União existem 3.414 mulheres trabalhando nas áreas administrativas e jurídicas, o que corresponde a 37,65% do total dos cargos. Apenas nos cargos de chefia elas chegam a 47,15%. Este é apenas um dos exemplos, existem vários.
Os homens rejeitam, intima e veementemente, a presença da mulher no ambiente trabalhista, principalmente quando elas são o CEO (chief executive officer, diretor-executivo ou diretor-geral de uma empresa), ou seja, quando elas são o “cara” que manda em todos os outros funcionários. Sentem-se diminuídos, desprestigiados, quando recebem ordens ou orientações que emanam de tailleur ou terninhos impecáveis. Antigamente, era raro uma mulher ocupar cargo de chefia, num departamento ou na direção geral de uma empresa. As funções de natureza masculina quando desempenhadas por mulheres eram remuneradas em valores menores. Atualmente, este quadro desalentador está mudando, como a revolução promovida pela pílula. As mulheres estão avançando, cada vez mais, em “recantos” masculinos, ocupando cargos e funções que exigem capacidade cognitiva e técnica e estão dando conta do recado. A mulher deseja espaço para atuar, não para competir, com aquele do qual foi criada. Ela deseja participar, intensamente, não apenas nos destinos da esfera familiar, mas da vida social, política, econômica e cultural da sociedade.
Não sou feminista e nem pretendo advogar a causa feminina, mas acredito que o homem deve rever sua mentalidade e postura em relação às mulheres na chefia. Que ele a veja sem temores ou repulsa. Que ela seja vista não como uma contendora, e sim como parceira, uma colaboradora valiosa e imprescindível na busca de um bem maior, do bem coletivo, na conquista de soluções para a superação de problemas complexos que afligem a todos de nossa sociedade.
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