A vida é algo de admirável complexidade. Em inúmeras oportunidades e circunstâncias apresenta-nos inquietantes ritos de passagem. Estes se articulam no que comumente conhecemos por dilemas e escolhas. Este binômio aparentemente simples ergue-se constantemente no decorrer de nossas jornadas, causando ansiedade e desconforto. Mas como definir estes institutos que determinam e conduzem nossas vidas por caminhos tão distintos e surpreendentes?
O dilema é a arena de todas as divergências e contrastes. É o momento crucial em que nos envolvemos na necessidade de uma escolha, diante de opções diferentes e notadamente opostas. Nele imergimos em solitários conflitos internos que nos levam à beira do precipício mental. Buscamos sinapses otimizadas no alcance da escolha ideal e adequada, aquela que nos conduza à luz e ao sucesso e que não nos arremesse à escuridão e à desgraça. Nele vivenciamos aflitivas incertezas e sofremos a inarredável atração de cada opção, não nos sendo permitido conhecer verdadeiramente a beleza ou o horror de cada uma de suas consequências. Em alguns dilemas optamos pela ação de nossos instintos, numa tentativa de acerto despojada de consciência e responsabilidade em relação à decisão adotada. Nem sempre esta opção imponderada redunda em vitória e realização, pois o instinto, como produto de um somatório de condicionantes físicas e psíquicas não é, em sua natureza, uma equação aritmética que nos possibilita e garante um resultado preciso e plenamente satisfatório. Inegavelmente, o momento em que nos confrontamos com um dilema, qualquer que seja sua essência, é um momento crítico. É a tormenta psíquica que se estabelece diante de uma escolha. Introspectivos, refletimos sobre todas as nuanças da escolha e seus impactantes efeitos. Finalmente, buliçosos e ansiosos, chegamos ao fim das especulações mais insanas e estupefatas, deliberando por uma escolha.
As consequências de uma escolha podem nos remeter a uma situação inesperada, a caminhos totalmente diversos e, às vezes, degradantes e dolorosos sob qualquer análise. Seu efeito pode se constituir em um prazeroso sucesso ou em um inconveniente infortúnio. Para a maioria de todos nós, a escolha se constitui no momento mais relevante de qualquer opção. Nele elegeremos o caminho que nos é mais adequado, que atende aparentemente nossos anseios e expectativas. A escolha definida arremeter-nos-á para o outro lado, para o plano que nos é desconhecido, para aquela dimensão amorfa e de aparência diáfana que divisamos em nosso dilema. A escolha definida manifestará nossa preferência e decisão, impondo-nos submissão incondicional a um futuro imprevisível e inesperado. Poderemos emergir num mundo de sonhos e felicidade suprema. Poderemos cair numa aridez desértica, repleta de pesadelos e eventos funestos. A escolha é a providencial inflexão na linha de nossas vidas. A partir dela poderemos ser guindados por um caminho diametralmente oposto àquele que palmilhávamos anteriormente. Um caminho pelo qual não poderemos retornar, pois, infelizmente, a vida é única, um caminho sem retorno, que percorremos num só sentido. Como alguns sábios e filósofos declaram: “Todo e qualquer caminho, depende de uma escolha...”. A definição de uma escolha determinará o sentido e a configuração do próximo capítulo de nossas vidas. Percebemos em exemplos reais. A maioria de nós deparou-se em algum momento de sua vida com a escolha da profissão. Pensou em ser engenheiro, médico, administrador ou, infelizmente, criminoso. Mas o que terá acontecido que o levou a escolher a profissão que exerce? A definição de seu ofício foi uma das escolhas mais relevantes de sua existência. É a escolha daquela atividade que norteará sua vida, suas satisfações, que lhe trará alegrias e realizações. Então, na oportunidade, surgiram critérios, fatores e inseguranças, e quais seriam eles, que o levaram a essa escolha? Aqui não podemos determinar. Estes elementos, tão complexos e inusitados e talvez esquecidos, foram partícipes de seu dilema profissional. Foram circunstâncias contextuais que certamente o levaram a definição da escolha, e a essas cabem algumas considerações.
Nem sempre as circunstâncias são favoráveis a uma decisão livre e desimpedida. Muitas delas subjugam o critério de escolha. No exemplo citado, a definição da profissão pode não ser efeito de um ato deliberado, mas sim de uma imposição de natureza conjuntural ou emocional. No contexto profissional, o engenheiro ou o médico optou por seu ofício em deliberação, talvez por efeito de orientação profissional dirigida por uma psicóloga ou por influência familiar. Por outro lado, ocorrem os casos que não se tem condições de escolher, como é o caso daqueles que foram arrebatados para a delinquência. O criminoso não tem liberdade de escolha. Ninguém, em princípio, nasce ou deseja ser um delinqüente. Foi compulsado a engrossar as fileiras da criminalidade devido à falta de oportunidades e pelas circunstâncias desfavoráveis que o envolveram durante sua infância e/ou juventude. Penúria e violência, baixa escolaridade e desestrutura familiar, são alguns dos diversos fatores preponderantes numa escolha inadequada e inconsciente. Não podemos julgar um profissional, uma personalidade, um comportamento, sem conhecermos o que determinou sua escolha.
O homem é efeito de suas escolhas. Em qualquer momento e em qualquer tempo. Viver e continuar a definir os caminhos pelos quais percorrerá ao longo da vida dependerá, única e exclusivamente, não dos dilemas com que se deparará, mas com as imutáveis escolhas pelas quais decidir.
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