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"A literatura insinua e coloca questões muito mais do que as responde ou resolve."

-------------------Milton Hatoum, escritor brasileiro



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quarta-feira, 19 de maio de 2010

FELIZ ANIVERSÁRIO, GOSTOSO

Trabalhava num escritório de causas advocatícias. Magro, alto e um tanto desengonçado, escondia-se por trás de um par de lentes que o deixavam bem mais velho do que realmente era. Como conheceu a intimidade de Lucimara muito cedo, não teve escolha: casou-se precocemente, com apenas vinte e um anos de idade. A esposa era uma mulher prendada, de média estatura, quadris largos e coxas grossas. O corpo lhe agradava, mas ela era um tanto apática para a idade que tinha, demonstrando lentidão e desânimo em quase todas as situações, e esta maneira de ser, desagradava Fernando. Ele era um homem ativo, muito ativo. Dedicava-se ao aprimoramento profissional sempre que o tempo lhe permitia. Não se contentava apenas em trabalhar na burocracia de um escritório. Queria mais, queria crescer, tanto que durante a noite cursava a faculdade de Direito e não tardaria a concluí-la. Com a apresentação do diploma seria mais bem remunerado, e caso não lhe oferecessem salário digno aos anos que passara estudando à noite e deixando a mulher sozinha em casa, abandonaria o escritório. Procuraria outro emprego ou, quem sabe, montaria seu próprio escritório.

Aquele dia era especial. Logo cedo, foi recebido pela mulher com um abraço e um longo beijo, felicitando-o pela passagem do aniversário. Satisfeito, abraçou aquelas curvas adiposas e depois foi fazer a higiene pessoal. Barbeado e perfumado, vestiu a camisa branca de colarinho engomado e colocou a gravata nova que a patroa dera-lhe na noite anterior, como presente de aniversário, e nada mais, nada mais. Embarcou na van e foi trabalhar. A chegada ao escritório foi marcada por abraços, beijos e felicitações exultantes dos colegas de trabalho. O gerente e dono do escritório, depois que todos o deixaram sozinho em sua mesa, aproximou-se e parabenizou-o. Entregou-lhe uma pequena caixa de presente. Depois de abri-la, sorriu. Ela continha um relógio. O magricelo de óculos encarou o patrão e disse:

- Obrigado, Dr. Heitor, muito obrigado, realmente estava precisando de um relógio novo... e para dizer a verdade, o meu quebrou quando caí aqui na rua, na última enchente...

O patrão sorriu.

- Isso não ocorreu há um mês?

Fernando assentiu.

- Obrigado mais uma vez pelo relógio, e a propósito, o senhor não quer ir a comemoração do meu aniversário? O pessoal do escritório está organizando... vai ser hoje à noite, na churrascaria Laço do Peão... ela fica a uma quatro quadras daqui...

O gerente ajeitou os óculos.

- Agradeço o convite, mas eu tenho um compromisso inadiável... te desejo felicidades na comemoração.

- Obrigado.

O expediente terminou e todos foram para a comemoração. Fernando chegou acompanhado de dois colegas. Os demais funcionários do escritório já estavam sentados numa longa mesa, comendo e bebendo. O aniversariante se reuniu à turma e passou a comemorar. O grupo contava piadas, fatos pitorescos ocorridos no trabalho ou na vida alheia. Risadas e gargalhadas se evadiam da mesa. A alegria era veemente e percebida pelos poucos clientes que estavam no estabelecimento naquela noite. Fernando convidara a mulher para ir à churrascaria, mas Lucimara preferiu ficar em casa, aguardando-o chegar e comemorar seu aniversário na intimidade do lar.

Apesar do aniversariante estar envolvido pela alegria do momento, de soslaio, acabou por perceber que era observado atentamente por uma mulher atraente, que estava em outra mesa. Ela estava acompanhada por uma amiga. A dupla, bonita e bem dotada fisicamente, cochichava alguma coisa sobre ele ou sobre a comemoração. Enquanto conversava com os amigos, o olhar de Fernando recaía sobre a mulher e seus maravilhosos seios, premidos por uma blusa muito justa. Ele ficou fascinado com a observadora desconhecida. Embora sua mulher ainda não tivesse engravidado, engordara, e nem de perto se comparava com aquela beldade austríaca. Sempre pouco criativa e desanimada na cama, Lucimara não satisfazia o furor do marido, e ele queria mais, queira que ela fosse audaciosa, mais atuante. Teve pensamentos indecorosos em relação à desconhecida, mas pensou que não passariam de fantasias e grandes fantasias não se realizam. Não teria nenhuma chance naquela noite e nem em outra, pois apesar de fazer faculdade à noite, a mulher cerceava sua liberdade noturna e como nunca vira a beldade por ali, talvez nunca mais voltasse a vê-la no estabelecimento.

Beberam, beberam e comeram. Ocorreu a entrega de presentes e seguiu-se a chegada à mesa de um pequeno bolo com velas cintilantes, vindo da cozinha da churrascaria. Minutos depois, durante a comemoração, o aniversariante notou que um dos colegas de trabalho, chamado Diogo, levantou-se e foi ao banheiro. No percurso para o sanitário, ele parou na mesa da loira. Fernando pensou que o colega tentava uma conquista. Viu a loira concordar com um gesto de cabeça e o colega prosseguiu seu rumo. No instante seguinte, a beldade se levantou e se dirigiu para o banheiro feminino. Passaram-se alguns minutos e Diogo voltou para a mesa, seguido de longe pela loira. Sentou-se onde estava e ficou mais alegre do antes, rindo à toa. Fernando percebeu sua atitude, mas não deu maior importância, julgando que sua alegria decorria da satisfação que envolvia a todos naquele momento e da deglutição das carnes suculentas que eram servidas. A comemoração transcorreu normalmente e, aos poucos, os colegas foram se despedindo e indo embora. Finalmente, restou Diogo e mais dois colegas, sendo que um deles se aproximou do aniversariante e disse:

- Amigão, antes da saideira queremos que você vá tirar a água do joelho... procure nos sanitários e vai encontrar o teu presente.

- Presente? Que presente?

- O presente destes teus amigos que tanto te querem bem... vai, vai logo pegar o teu presente – disse Diogo sorrindo.

Fernando sorriu e levantou-se. Um pouco tonto, foi para o banheiro. Entrou no sanitário e notou que não havia ninguém por ali. Passou a caminhar, abrindo as portas das privadas e olhando para o interior delas. Nada. Porta após porta aberta e ele não encontrava absolutamente nada. Acreditou ser gozação dos amigos. Continuou a caminhar até que chegou à última porta, que estava fechada. Achou que a privada estivesse ocupada, mas mesmo assim, empurrou a porta, deparando-se com a loira desconhecida. Ela estava sentada sobre a tampa da privada e o encarava. Assustado e antes que pudesse falar alguma coisa, foi puxado com força pela gravata. O corpo esquálido foi encerrado no cubículo.

- Ei, você está no banheiro errado!

A loira sorriu maliciosamente e disse:

- Não importa... sou teu presente de aniversário...

- O quê?!

Antes que Fernando falasse mais alguma coisa ou fizesse algum movimento, a loira puxou a própria blusa decotada para baixo, expondo os seios cheios e eretos. Ele arregalou os olhos, deslumbrado.

- Gostou? – disse ela.

Mesmo um tanto atordoado, ele assentiu. Ainda muito ágil, ela abriu-lhe a braguilha e arriou suas calças. Envolveu-lhe a virilidade e passou a lhe proporcionar profundo deleite. As mãos de Fernando passaram a pressionar as paredes da privada, tentando sustentar o corpo que entrava em êxtase.

- Não, eu, eu não vou aguentar... não vou aguentar...

A loira proporcionava-lhe prazer e sorria, percebendo que sua ação fascinava o amante ocasional. Súbito, ele irrompeu em clímax de proporções planetárias e ela o segurou, pela cintura. Zonzo pelo prazer que o atordoou, encostou-se a uma das paredes e sorriu.

- Feliz aniversário, gostoso! – disse a loira, que se levantou e saiu, limpando o rosto.

Fernando sentou na tampa da privada e continuou sorrindo. Balançou a cabeça, imaginando que não poderia receber presente mais estranho em toda a sua vida. Estava satisfeito e vazio. Como faria quando chegasse em casa para comemorar com a patroa, sob os lençóis novos que ela comprara recentemente? Balançou a cabeça. Pouco importava, ela não era de muito fogo mesmo e nem perceberia que ele estava vazio, pensou. Levantou, fechou o zíper das calças e voltou para a mesa, para tomar a saideira com os amigos. Estava feliz, feliz que só.

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