Da boca que cintila, saem palavras que enchem meu coração de amor e alegria
Cheia de graça, no bambolear do vestido esvoaçante deixa sua marca, por onde sua sombra se esvai
És maravilhosa...
Leva-me pelos caminhos do dia-a-dia a percorrer serenamente, sem sobressaltos, sem surpresas
Nos gestos, nos olhares, no toque das mãos, toca-me o íntimo pelo ar que envia de tua boca, tão doce boca...
És maravilhosa...
Perdido em devaneios, passas correndo por mim, correndo por entre flores silvestres num jardim, nunca imaginado... flores que lhe cedem o brilho, no trilhar de teu existir, dando-lhe um sorriso iluminado
És maravilhosa...
Em teu encalço, caio em desatino, no sinuoso caminho deixado por tuas madeixas negras, encaracoladas nas pontas que parecem não terminar...
Busco extasiado pelas curvas de teu corpo que me seduz, por entre flores que afasto sôfrego... leva-me para longe, distante dos homens e de seus males... leva-me para o silêncio dos céus, para o vigor da vida, para um mundo puro, que sou rei e sou teu súdito
És maravilhosa...
Abandonamos o jardim, abandonamos as flores, que parecem deixar o perfume de suas pétalas em tua pele macia...
Tombamos sobre o espelho cristalino de um rio, de águas tenras e límpidas, nunca visto por ser vivente... as águas nos envolvem, nos acariciam...
Abraçados, beijamos nossas entranhas, no ardor de nossos desejos, na união dos corpos que fazem ferver a água e tudo que há nela...
És maravilhosa...
Saciados, voamos, voamos para o fim do mundo, para a morada que nos acolhe, protegendo o nosso amor
És maravilhosa... minha AnaCris

Seja bem vindo
"A literatura insinua e coloca questões muito mais do que as responde ou resolve."
-------------------Milton Hatoum, escritor brasileiro
-------------------Milton Hatoum, escritor brasileiro
sábado, 24 de abril de 2010
terça-feira, 20 de abril de 2010
CQC – CUSTE O QUE CUSTAR
UM CAFEZINHO E... EU PAGO A PROSA
Pouco tempo me resta para ficar diante da televisão, devido à produção de textos para o blog e os afazeres que envolvem o lançamento do meu livro Por Trás da Lei. Mas sempre que posso entrego-me ao ócio e refestelo o corpo cansado numa das poltronas da sala, passando a catar novidades na telinha.
Misturar jornalismo com humor ou humor com jornalismo, que para alguns a ordem dos fatores não altera o produto, não termina bem. No primeiro binômio, não vejo receptividade e nem espaço para um jornalista de credibilidade fazer humor com um assunto sério. Sua reputação e audiência são lançadas, em queda livre, no fundo de alguma lata de lixo enferrujada. Entretanto, na outra ponta desta balança, onde encontramos humor com jornalismo, até hoje ninguém conseguiu a façanha dos apresentadores ou comediantes do programa CQC, Custe o Que Custar, da Rede Bandeirantes. Eles apresentam fatos políticos ou artísticos com aquela “tintura” humorística que cativa a atenção de qualquer telespectador, até daquele que adora cochilar diante da tv. É claro que não é uma e nem duas vezes que derrapam na abordagem, conduzindo e encerrando a matéria de maneira um tanto confusa, vazia e sem a graça esperada pelo telespectador. Outro fator negativo no programa e que podemos perceber sem nenhuma dificuldade é a excessiva carga de merchandising durante sua exibição, depreciando um pouco sua qualidade satírica. Os dublês de repórteres que abordam pessoas públicas, como políticos, celebridades e outros não menos importantes, fazem perguntas pouco discretas e que levam os entrevistados a cometerem gafes e se confundirem em suas respostas, trazendo graça e alegria ao programa, tornando-o um entretenimento muito agradável. Os quadros que formam a carteira do programa são bem elaborados e acredito que o segredo da trupe é revelar o lado B das notícias, o lado que a mídia evita expor ou tenta ocultar e que o povo tanto deseja que seja revelado, de modo transparente e objetivo.
Custe o que Custar é um programa que não deve acabar, apesar dos protestos políticos e de celebridades que se sentem incomodados ou com sua pretensa intimidade ferida. Vida longa e sucesso ao programa e a todos os seus integrantes e que ele se renove sempre que possível.
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Crônica
domingo, 18 de abril de 2010
TRISTE EPÍLOGO
A mãe voltara do cinema com uma tia. Era final de uma tarde de primavera e não havia brisas. Ele estava com medo. Não por que ficara em casa sozinho, mas porque o pai, homem frio e despótico, que sentia prazer em demonstrar sua força física com os filhos, acabara de chegar. O pai fumava nervosamente, quando lhe perguntou pela mãe. O garoto esquelético, de olhos encovados, respondeu temerosamente. Embora ausente, o pai xingou a esposa. O garoto sentiu um medrar aflitivo e encolheu-se, como se encolhia quando o pai, por motivo fútil, espancava-o. O pai suava. Uma transpiração que porejava o cenho. Tenso, foi para o quarto e trocou de roupa, retornando com uma camisa e uma bermuda. O garoto, enquanto o pai se mudava de roupa, foi para a porta do barraco onde moravam e ficou aguardando a chegada da mãe.
O barraco era de pau-a-pique. Não havia forro ou laje, apenas o telhado que, visto por dentro, era um misto de barro e fuligem vinda das bocas de fogo da cozinha. O piso era uma argamassa porosa, coberta por tinta avermelhada, que sua mãe encerava e lustrava com um pano enrolado numa vassoura. Havia um quarto, onde seus pais dormiam; uma sala pequena, que servia de dormitório para ele e o irmão mais velho; uma cozinha muito pequena, onde a mãe preparava o pouco que vinha para a mesa e de onde a gordura vaporizada se espalhava pelo barraco.
O garoto sentou-se na soleira da porta e ficou olhando para o abacateiro, que cresceu ao lado do barraco, criando uma grande sombra sobre ele. Estava aflito. Sentia as pernas tremeram dentro das calças curtas, pelo ruído causado pelo andar pesado do pai dentro de casa. Sentia-se fraco por saber que nada poderia fazer para mudar o que estava por acontecer. Sabia que, pela atitude agressiva e impaciente do pai, a situação resultaria em mais uma das brigas que tanto o atormentavam. O garoto queria paz, harmonia entre o pai e a mãe, mas o pai nunca assim o desejou, nem mesmo depois que ele cresceu e tornou-se um adulto. Gostava de correr, alucinadamente, tanto pelo quintal empoeirado, como pelas ruas sem asfaltamento, quando ia comprar alguma coisa por ordem do pai que o via apenas como um serviçal. Pensou em abandonar seu posto no fundo do terreno e correr para o portão de casa e aguardar a mãe. Tentaria, com o seu pequeno vocabulário, expressar-lhe o perigo que enfrentaria. Mas sabia que sua atitude de nada adiantaria. A tarde estava terminando e a demora da mãe em chegar do cinema aumentava a agressividade do pai. Ele temia pelo porvir.
A figura da mãe acompanhada pela tia surgiu no portão. Ela sorria, demonstrando um dos raros momentos de alegria que marcaram sua vida depois que casou com aquele sujeito à toa. O pai, desde jovem, fora avesso ao trabalho. A mãe veio caminhando devagar. Parecia que comentava cenas interessantes do filme que assistira. O garoto levantou e foi encontrá-la. Abraçou-a forte e ela ficou surpresa com sua atitude.
- Tudo bem filho?
Rosto erguido e olhar fixo nos olhos da mãe, ele nada respondeu, cingido às pernas que muito o conduziram até o posto médico mais próximo quando doente. A mãe e a tia seguiram para o fundo do terreno. Ele seguiu-as. A porta da cozinha estava aberta e elas entraram por ela. O garoto foi para junto da porta e ficou encostado na parede que a ladeava. Não tardou irromper uma forte discussão. Por perceber a aflição da mãe que se defendia das acusações infundadas do pai, o garoto entrou na sala. Pensava que sua presença poderia inibir a agressividade do pai. Estava enganado. O pai estava para agredir a mãe quando ele foi arrastado pela tia para fora, que o conduziu para uma pedra próxima de uma goiabeira afastada do barraco. O garoto tentava livrar-se das mãos da tia, que um dia o faria macho, mas não conseguiu vencer a força arrebatadora. Sentados e abraçados na pedra fria, a tia e ele passaram a ouvir a forte briga. Palavrões, gritos, atitudes agressivas soavam como estrondos no fundo dos ouvidos do garoto, que tentava fugir dos braços que o manietavam. Ele queria interceder em favor da mãe. E esta tentativa de socorro se repetiu por um tempo muito longo para sua mente em pânico. Enquanto chorava nos braços da tia, a mãe era acusada de leviandade, de traição, quando adúltero era o pai. De repente, ouviu, aterrorizado, a mãe gritar, suplicar para que o pai não fizesse aquilo. No instante seguinte, através da porta da cozinha, viu um facão na mão do pai e este decepando ao meio a sandália, de salto de cortiça, que a mãe usava quando chegou do cinema. Ele tentou socorrê-la, mas estava exausto e fraco para fazer qualquer coisa. Os olhos marejados viram o pai sair pela porta da cozinha e desaparecer no portão de casa. A tia o soltou e ele correu desesperadamente ao encontro da mãe. O que viu cravou-se no inconsciente, uma imagem impactante, pungente, que deixou uma mancha esbraseada, nódoa que nunca mais desapareceria. A mãe estava caída no chão da cozinha. O vestido de algodão estampado encontrava-se rasgado, despedaçado, desvelando um dos seios. Ela soluçava muito e a sandália dilacerada pelo facão estava diante do corpo dolorido. Não por apanhar, porque o marido não a agredia fisicamente, apenas a ameaçava, impondo-lhe tortura psicológica. Era uma guerra de nervos, de intensa tensão mental. O garoto se aproximou devagar. As lágrimas que escorriam da face contraída, o tremor das mãos que costuravam dias e noites, o choro lamentoso do coração que o gerou. Ele ajoelhou e abraçou a mãe. Ficou a chorar com ela. O terror novamente permeara seu lar, não, não poderia chamar de lar aquele barraco, aquela existência degradante. Desejava um desfecho diferente para sua vida cheia de violência e penúria. Desejava expurgar do íntimo todas aquelas imagens, todos aqueles momentos que mais pareciam cenas de um tétrico filme hollywoodiano.
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terça-feira, 13 de abril de 2010
CREPÚSCULO, LUA NOVA, LOBISOMENS...
Férias com a família nos levam a programas que normalmente não fazemos. E foi isso que aconteceu comigo nos meses de dezembro do ano passado e janeiro do corrente. Vivenciamos vários momentos de alegria. Caminhamos, saímos para jantar, fizemos mais churrascos, viajamos, nos divertimos à vontade e, não poderia deixar de ser, fomos ao cinema. Cabe registrar que na semana anterior minha musa menor, na ternura de seus nove anos de idade, assistiu em DVD o filme Crepúsculo, o qual a levou ao delírio. Diante do telão, comendo pipoca e bebendo coca-cola, assistimos ao filme Lua Nova e aí, minha princesinha foi subjugada pela “febre do vampirismo”. Não tardou a pedir para comprar o DVD do Crepúsculo, o primeiro filme da nova saga vampiresca. Conversei, articulei, e consegui convencê-la a não comprar um DVD que não era próprio para sua idade e que não lhe traria bons ensinamentos. Ela perguntou porque. Então tive que explicar que esse negócio de crepúsculo, lua nova, vampiro, lobisomem e termos afins, invadiram a “nossa praia” e que isso não é de hoje. Ela ficou um tanto surpresa e passou a ouvir-me atentamente. Mas como expliquei a ela, para entender um pouco a origem e efeitos dessa “febre”, voltemos ao passado, onde tudo começou.
A figura amedrontadora do vampiro Drácula surgiu pela pena empunhada por um escritor cujo nome transpassou décadas, gerações. Bram Stocker nasceu em Dublin, na Irlanda, em novembro de 1847. Escritor precoce, Bram Stocker escreveu seu primeiro ensaio literário aos 16 anos de idade, mas sua obra-prima foi a criação do conde vampiro Drácula. O vampiro e sua história nasceram de um pesadelo do escritor, no qual um vampiro se levanta da tumba onde jaz. Mas a ideia terrificante adquiriu arcabouço na figura de Vlad Tepes ou Vlad Drácula, o sanguinário príncipe da Valáquia. Este governante, cruel e sádico, chegou a empalar (espetar com uma estaca o corpo de um condenado pelo anûs, até que ocorresse sua morte) mais de 20.000 turcos, de uma só vez. Vlad Drácula era maníaco por ver sangue correr e em destruir seus inimigos. Foi treinado numa escola de magia negra, nas montanhas da Transilvânia. Os Dráculas (vampiros) eram membros de uma nobre estirpe, mas inúmeros mantinham tráfico com o Maligno. Necromancia (suposta arte de adivinhar o futuro por meio de contato com os mortos) e práticas negras eram feitas pelo conde vampiro, em pessoa, às margens de um lago. A narrativa de Stocker, que atravessa e encanta gerações, retrata um cenário marcado pelo terror, onde se percebem escuras florestas nas quais lobos caçam ao luar, onde figuram castelos sombrios, em que ocorrem guerras sangrentas e seres são encarcerados em prisões úmidas e escuras. A saga de Drácula representa a história de um amor irresistível, que perpassa os séculos, que atravessa extensos períodos de tempo na busca incansável da mulher amada. Nesta busca, o vampiro deixa um rastro de sangue e medo no qual se confronta com valores humanos, com a ciência e a moral. Ele é a besta que se alimenta de sangue e não tem escrúpulos para consegui-lo.
Bom, é importante que saibamos, mesmo que sucintamente, a origem da história do vampiro para entendermos realmente porque ele fascina tanto homens, mulheres, e agora jovens e crianças e o que está por trás disso. A história do vampiro tornou-se um marco na literatura mundial, por seu ineditismo, caráter misterioso e poder sobrenatural dado ao personagem criado por Bram Stocker. O ser humano, em qualquer tempo ou época, sempre sentiu forte atração pelo desconhecido, pelo sobrenatural, pelas forças que regem o mal e suas nuances. Drácula, o príncipe das trevas, como é intitulado, é o genuíno representante do Maligno e de todas as suas formas e teores. O filme que retrata a saga foi regravado várias vezes, em décadas diferentes, apresentando versões diversas, que sempre mantinham a ideia precípua do vampiro forte, sanguinário e (quase) imortal na busca do amor de uma mulher. Embora os atrativos fossem grandes e sedutores para a consciência humana, em todas as versões, este fascínio foi-se desgastando ao longo dos anos, fazendo o filme e o tema caírem no desagrado e esquecimento popular. Mas o Maligno, figura oculta e aparentemente esquecida pela sociedade contemporânea – sociedade consumista e pervertida – foi reativada e renovada na saga Crepúsculo.
A saga Crepúsculo é uma nova série de filmes de terror, que conta com modernos efeitos especiais de Hollywood, na qual reconta a narrativa de Drácula, história de terror tão desgastada, de uma maneira revigorada e muito atrativa. Para fascinar e cativar todas as idades e gostos, a equipe de filmagem trabalhou no requinte e refino do layout do tema. No lugar do original vampiro adulto, de feições cadavéricas, roupas escuras, aparência tenebrosa e sedento por sangue, surgiu um vampiro politicamente correto, “vegetariano”, que se alimenta de sangue animal e não sangue humano, que é jovem, sedutor, com aparência e atitude joviais, que se veste e se comporta como os jovens se vestem e se portam atualmente, cuja consciência é marcada pela busca de um grande e irresistível amor que irá encontrar, não através de um rastro de sangue de gente inocente e desconhecida, mas na vivência pacífica de um colégio de uma cidade provinciana. O amor do vampiro (representante do Maligno) é demonstrado de forma singela, cheio de ternura e paixão, sem violência severa, para cativar desde jovens e crianças desavisados até adultos envolvidos pelo caos diário, que não percebem no entretenimento que buscam para aliviar o estresse, uma fonte de maldade, de malignidade, de descaminho. O vampiro jovem e seus familiares coadjuvantes demonstram ser pessoas de “boa índole”, que “não cultuam” o mal e nem agem em prol dele, que a jovem inocente que descobriu seu grande amor na figura do vampiro jovem, deve aderir a sua causa, ou seja, entregar-se à morte em favor de um imenso e intenso amor, que se tornará eterno, caso ela se sujeite ao sacrifício de tornar-se uma morta-viva, uma chupadora de sangue, seja ele humano ou animal. O filme Lua Nova não foge muito do padrão, da ideia-força da saga, apresentando algumas variações na história e maior aparato em efeitos especiais, a fim de cativar mais profundamente o público ingênuo, inocente e pouquíssimo informado.
Não sou crente, fanático e nem estou tentando converter ninguém.
Essa nova “estampa ou roupagem” do mal foi elaborada por uma jovem escritora norte-americana, de nome Stephenie Meyer, e executada por alguns dos soldados do Maligno que fazem Hollywood prosperar. O maligno precisa se renovar, recrutar e adquirir novos adeptos à sua causa. Sua concepção é fazer com que a maioria ou totalidade da raça humana acredite que o bom é mal, e que ele (maligno) que é mal, seja na “realidade”, bom, muito bom. E essa crença, veneração, só se configura na consciência humana se a roupagem do mal for bela, encantadora, atrativa, capciosa, envolta em fantasia, amor, paixão desenfreada, como é em toda a saga Crepúsculo. E na nova roupagem não figura apenas o vampiro e sua corja de assassinos chupadores de sangue, mas lobisomens (representantes do mal que deixaram a causa, tornando-se o lado “bom” da saga) que são seus opositores, que defendem a espécie humana. É o caos.
É com tristeza que vejo adultos, jovens e até crianças se empolgarem, se fascinarem com esta saga que serve de power-point do Maligno em sua expansão pelo mundo, levando-o a degradação, ao próprio extermínio. Como coibir algo que se espalhou, como uma epidemia? Resta-nos reacender, no interior de nossos corações, no interior de nossos lares, os valores ensinados por aquele que apresentou o Caminho. Jesus Cristo não foi visto como herói, quando devia assim ser reconhecido. Ele foi correto, fiel, leal, digno, acolheu e valorizou os pobres, incluiu menosprezados, realizou milagres, curou enfermos, endemoniados, caminhou sobre as águas do mar, multiplicou pães e peixes, dando-os aqueles que tinham fome. Foi o herói que morreu e nunca mais foi cultuado como realmente deveria ser. Nossos jovens e crianças, que serão a geração de amanhã, devem conhecer os valores do Senhor da História, que é Jesus Cristo, e de seus apóstolos. Devem optar, livremente, pelo caminho dele que é o verdadeiro e correto caminho a seguir. Pornografia, prostituição, depravação, delinquência, corrupção, violência e tantos outros males são atrativos que só levarão o homem e a sociedade ao colapso, à ruína. Se desejamos uma sociedade justa e igualitária devemos resgatar os valores que foram abandonados e que tornavam o homem digno perante o seu semelhante. Tente, por mais que pareça impossível, fazer com que aqueles que pertencem a sua família descubram e pratiquem o real significado da serenidade, da harmonia, da mansidão, do perdão, da dignidade, do sexo seguro, do amor verdadeiro e isento de inveja, ciúme e traição. Parece difícil, mas a mudança deve começar por você. A reação daqueles que convivem contigo, de imediato, será intensa e oposta, mas não desanime. Sua atitude e perseverança reverterão a situação, aos poucos. Você verá que tudo mudará ao seu redor, para melhor. Acredite.
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sábado, 10 de abril de 2010
UM MEDO BREVE E SEUS ARREDORES
Ele suava. Uma transpiração fria, fugidia, que corria do alto do cenho para a barriga que se comprimia. A noite era de primavera, mas parecia de verão. Quente, sufocante, com poucas brisas que amenizam o calor que o incomodava, mas não o seu temor. Voltava para casa. A velha casa, carcomida pelos anos e pela desarmonia entre familiares. Ela estava logo ali, adiante, não tão longe do corpo esquelético que muitas vezes consumia apenas duas refeições diárias. Gostava de correr, alucinadamente, pelo quintal empoeirado em perseguição de alguma galinha, somente para vê-la fugir em desespero. Sentia-se forte, ágil, superior. Fazia-o esquecer a miséria em que vivia enredado. Gostava de ser criança. Ser criança para ele era ser inocente, criatura de coração puro, não enlameado pela corrupção dos adultos. Ser criança era não ter as responsabilidades que tanto ouvia os adultos reclamarem. Continuava a caminhar em direção à porta dos fundos, olhos remelentos pelo sono que o derrubara sob o abacateiro. Debandara para lá no fim da tarde, para gozar da sombra imensa. O cansaço inerente ao corpo fraco conseguiu abatê-lo, apesar de ele lutar para não dormir fora de sua cama, ou melhor, catre, aquilo onde estirava o corpo. Sentia medo do escuro, da lua. Um medo visceral, que ao precipitar-se na luz, extinguia-se em celeridade semelhante a um piscar de olhos. Olhos vívidos, não soturnos. Dormia num canto da sala, vigiado pela chama de uma vela. O déspota que o colocara no mundo não permitia que qualquer lâmpada permanecesse acesa depois que todos fossem dormir, afinal onde arrumaria mais dinheiro para pagar a conta de energia. O salário que recebia era mínimo, mínimo num país sempre em desenvolvimento, expressões que o garoto costumava ouvir. E o pai avesso ao trabalho, fazia “bicos” como pintor, mas mesmo assim faltava dinheiro. Ele continuava a caminhar em direção à porta dos fundos. Queria correr, mas sentia-se fraco, as pernas pesavam, não venciam o medo que as fazia tremer. A escuridão que surgira antes que ele acordasse, estava por todos os lados. E ele temia a escuridão. Causava-lhe um medrar aflitivo, que o fazia procurar o aconchego da mãe. Ele que não saía de casa à noite, para não se encontrar com as trevas e com a lua. Esta sim era “ser” que lhe causava forte temor. Quando a via no alto do firmamento enegrecido, cercada muitas vezes por misteriosas estrelas, sentinelas cintilantes, seu pequeno coração disparava e suas mãos transpiravam em abundância. Sentia o esfíncter contrair-se, sem o desejar. Temia ser esmagado por tão vigoroso astro, por gigante tão resplandecente. A lua era divina e, no entanto, ameaçadora. Atraía-o por beleza e obscuridade, mas despertava-lhe uma sensação agourenta, infausta. A porta dos fundos, da cozinha que sua mãe pouco cozinhava pela falta de alimentos, estava entreaberta, como a lhe oferecer uma pequena passagem que o livraria de todos os medos, ou do maior de todos. Tinha medo de cair no chão e ser engolido pela escuridão e depois ser esmagado pela lua. Era um medo breve, circundado por tantos outros. Guardava esse medo infantil, coisa de criança, que o acompanharia por toda a vida, sob outra forma, sob outro conteúdo. Ele saberia, muito mais tarde, que os medos de infância crescem conosco, acompanham-nos por toda a vida. Quem os transforma são nossas iras, ambições, injustiças, maledicências, cobiças, avarezas e egoísmos. Convivemos com o mal, com suas diversas formas e aparências, com a violência que lhe é inerente, para um dia deixarmos de perceber que nos tornamos aquilo que mais tememos.
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quarta-feira, 7 de abril de 2010
CASO ISABELLA (IV)
O julgamento do caso Isabella Nardoni chegava ao fim. Promotoria e defesa apresentaram suas teses. Seguiram-se réplica e tréplica, marcadas por elogios e descaracterizadas ofensas. Os jurados se retiraram e se reuniram com o juiz Fossem, para decidir o destino das vidas de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Do lado de fora, uma multidão de pessoas aguardava o veredicto.
Culpados ou inocentes?
Se culpados, Francisco Cembranelli será lembrado por muitos anos como o mais insigne promotor de todos os tempos, representante da justiça que livrou das ruas mais dois delinqüentes. Se inocentes, o mérito caberá a Roberto Podval, que lutou com poucos argumentos e provas e conseguiu convencer o conselho de sentença de que seus clientes eram inocentes.
A sentença foi proferida pelo juiz Maurício Fossem por volta da meia-noite de sexta-feira. Alexandre Nardoni foi condenado a 31 anos, 1 mês e 10 dias, e Anna Carolina Jatobá foi condenada a 26 anos e 8 meses. Coincidentemente, a idade que ambos possuem atualmente.
Para alguns, a pena foi pequena diante da iniqüidade que o casal cometeu. Para a maioria, a justiça cumpriu nada mais do que seu dever, com um mérito há muito não visto: demonstrou eficiência e celeridade.
Ana Carolina de Oliveira, como a maioria esmagadora do povo brasileiro, sentiu-se aliviada após a declaração da sentença. A pequena Isabella pode descansar em paz, pois seus assassinos permanecem encarcerados.
Mas essa história não termina aí. Sabe-se lá até quando a dupla ficará atrás das grades. Embora Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá tenham retornado para as penitenciárias de Tremembé, é bem possível que daqui a alguns anos vejamos outra mácula que, infelizmente, existe nas linhas que regem a justiça. Refiro-me a pauta da progressão da pena, aquela mesma que libertou Guilherme de Pádua, assassino confesso de Daniela Perez, filha da novelista Glória Perez. Ele está em liberdade e se tornou pastor evangélico.
Será que sentiremos a mesma sensação de impunidade com relação ao casal Nardoni, se isso vier a acontecer? Esperemos que não, esperemos que não.
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terça-feira, 6 de abril de 2010
CASO ISABELLA (III)
O julgamento do caso Isabella Nardoni atraiu a atenção de grande parcela do povo brasileiro, não somente por sua iniqüidade e brutalidade, mas principalmente por sua complexidade e pela divulgação do trabalho realizado pela polícia, perícia criminal e pela disputa entre promotoria e defesa. O povo brasileiro há poucos anos passou a conhecer o trabalho executado pela perícia criminal e sua relevância numa cena de crime. Seu interesse pelo assunto foi despertado e aprofundado pela série americana intitulada de CSI, que retrata o trabalho da perícia criminal no contexto de um crime, particularmente da morte de um ser humano. No decorrer do julgamento de Isabella Nardoni foram ouvidas as testemunhas da promotoria e da defesa, entre elas profissionais da perícia e testemunhas pertinentes ao caso. A perícia técnica, através de seus agentes, apresentou todas as evidências materiais encontradas na cena do crime, bem como esmiuçou a importância de cada uma delas. As testemunhas, tanto da promotoria como da defesa, apresentaram fatos que condensaram mais dados ao conceito de julgamento que os jurados deverão formar em suas consciências, para definir suas decisões em relação ao caso.
No decorrer do julgamento, promotoria e defesa foram apresentando suas armas e, aos poucos, os ânimos foram se acirrando. Francisco Cembranelli com muito tato, precisão e dignidade, soube abordar o caso de forma meticulosa, transparente, baseando sua tese de culpabilidade nas provas colhidas e analisadas pela perícia técnica. Além desta linha de análise e conclusão, o notável promotor também explorou a personalidade dos réus, apresentando suas características pessoais, como ausência paterna e ciúme exacerbado da madrasta. O advogado criminalista Roberto Podval, defensor dos Nardoni, em sua parte tentou desqualificar os trabalhos do delegado responsável pelo inquérito e da perita-chefe que executou e coordenou os trabalhos periciais relativos ao caso. Teceu considerações que procuraram enfraquecer o trabalho pericial e policial executados, demovendo os jurados da ideia de culpabilidade de seus clientes, entretanto, colheu fracassos, pois seu intento foi desvanecendo progressivamente. Cembranelli e Podval trocaram “farpas” durante o julgamento que foram comedidas pela autoridade do juiz Maurício Fossem.
Ana Carolina de Oliveira depois de permanecer incomunicável por três dias foi liberada, em vista de um laudo elaborado pela equipe médica do Fórum de Santana. A mãe de Isabella apresentou um grave retrocesso em seu tratamento psicoterápico, mergulhando em depressão profunda, por estar desgastada psicologicamente em decorrência de seu depoimento. Por estar isolada e muito abalada, seu estado emocional a levou a roer as unhas e a morder os próprios lábios, que sangraram. Diante disto, um laudo foi elaborado e apresentado ao juiz Fossem, que depois de consultar a defesa, liberou-a.
Ocorreram os debates entre a promotoria e a defesa. Novos embates e se sucederam vitórias e derrotas. Veio a fase de réplica e tréplica, o mesmo ocorreu. O julgamento começava a findar. O conselho de sentença se reuniu com o juiz Fossem para responder os quesitos necessários à sentença. E o veredicto estava para ser dado. Mas antes dele, cabem algumas considerações.
Se Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá forem condenados, retornarão para a cadeia e lá cumprirão a pena determinada pelo juiz. A justiça terá sido feita e todos retornaram às suas vidas. Se forem absolvidos, serão postos em liberdade imediatamente e irão para casa. Se isso ocorrer, certamente haverá uma comoção e revolta pública, em função dos ânimos acirrados. Mas independente do que venha a ocorrer, nada, mas nada irá recuperar, resgatar a vida daquele bela e feliz criança que tanto estampou camisetas e imagens televisivas. Isabella é mais uma vítima da banalização da violência, da falta de controle e autoridade de pais em relação a seus filhos, que posteriormente tornam-se pessoas desequilibradas, cheias de caprichos e irresponsabilidades.
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sábado, 3 de abril de 2010
CASO ISABELLA (II)
O julgamento da morte de Isabella Nardoni começou na segunda-feira, dia 22 de março, com o sorteio dos jurados, ato tecnicamente conhecido como conselho de sentença. Não ocorreram percalços nesta etapa. Logo depois se iniciou a inquirição de Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella. Foi uma inquirição longa e dolorosa, no sentido que diante dela estavam o pai de sua filha e a madrasta, supostos autores da morte de Isabella. Ana Carolina de Oliveira, desde a noite da morte de Isabella, diante das câmeras sempre se demonstrou muito amargurada, pois como tudo demonstra e nos permite deduzir, sua vida foi praticamente destruída pelo infortúnio ocorrido com a filha e, ainda, pelo fato de tornar-se uma pessoa de notoriedade. Sua vida nunca mais será a mesma. Ela não somente perdeu sua filha, mas sua privacidade. Sua existência será sempre lembrada pelos brasileiros, como a mãe da menininha que foi jogada pelo próprio pai pela janela de um apartamento na Zona Norte de São Paulo. Durante seu depoimento, Ana Carolina mostrou-se condoída, manifestou seu profundo amor de mãe, seu veemente pesar pela perda irreparável de sua filha. Segundo a mídia, ela chorou, copiosamente, numa manifestação genuína de que perdera mais do que parte de si mesma, muito mais do que isso. Do outro lado da sala, Alexandre Nardoni não parecia ser o pai de uma criança que morreu de forma trágica e iníqua. Impassível, aparentava serenidade, clara indiferença ao que relatava sua ex-namorada (eles não foram casados), como se nada daquilo se relacionasse com ele. Sentada ao lado, Anna Carolina Jatobá demonstrava-se tensa e aflita com o impacto que as respostas e afirmações de sua rival causavam no conselho de sentença. O depoimento de Ana Carolina de Oliveira impressionou o conselho de sentença a tal ponto que chegou a comover um dos jurados, e isso, certamente, desagradou o advogado de defesa Roberto Podval, pois colocou seus clientes em situação mais desvantajosa. E para a surpresa de todos nós que desconhecemos as sendas labirínticas da justiça, após o término do depoimento de Ana Carolina de Oliveira, o advogado Roberto Podval solicitou ao juiz Fossem que preside os trabalhos do júri, o cerceamento de sua liberdade, apesar do esgotamento físico e emocional da mãe de Isabella. Ele alegou necessidade de mantê-la à disposição da defesa, para uma possível acareação posterior com os réus. Embora legal, a atitude da defesa revoltou muitas pessoas, particularmente, a família de Ana Carolina de Oliveira. É algo lamentável, mas é uma das estratégias da defesa, e na guerra acirrada e “sangrenta” que me referi no artigo anterior, promotoria e defesa não dispensam armas que dispõem para a vitória. Esta estratégia infelizmente abalará ainda mais Ana Carolina de Oliveira, mãe desgastada e amargurada com a morte de sua bela filha.
O caso Isabella é marcado por dúvidas, como todo crime que envolve uma morte. De um lado os réus, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá alegam inocência, afirmando a existência de uma terceira pessoa na cena do crime. Como não há testemunha presencial, a promotoria, representada por Francisco Cembranelli, trabalha a linha de acusação em cima de provas materiais colhidas e analisadas pelo Instituto de Criminalística de São Paulo. E aí surge um irrefutável questionamento. Mesmo que Cembranelli prove a culpabilidade dos réus e tudo indica que isso ocorrerá devido a gama de evidências, fica uma incerteza, apesar de todas as evidências positivas: existiria realmente uma terceira pessoa na cena do crime, como alegam os réus, o verdadeiro autor da morte de Isabella, um assassino experiente que, segundo os laudos da perícia, não deixou rastros? Acredito que somente uma pessoa poderia esclarecer como tudo realmente aconteceu. Infelizmente, ela está enterrada no Cemitério Parque dos Pinheiros, em Jaçanã, bairro da capital paulista.
No contexto desta batalha judicial, travada passo a passo, na busca da justiça, podemos destacar dois elementos-chave. Um é o promotor Francisco Cembranelli que vem granjeando a simpatia, admiração e o carinho de todo o povo brasileiro. Logo nos primeiros momentos do caso Isabella, quando surgiu diante das câmeras, Francisco Cembranelli não procurou o melhor ângulo ou o foco dos holofotes. Queria, desde aquela oportunidade, esclarecer os fatos e cumprir, no melhor grau, o papel da justiça: apurar os fatos e punir o(s) responsável (eis) pela morte de Isabella Nardoni. Observando a vida pregressa de Francisco Cembranelli podemos constatar que ele tem vários méritos em aproximadamente 20 anos de carreira. Tendo participado de mais de 900 júris, obteve sucesso em quase todos, sendo reconhecidamente um profissional de primeira linha, competente e com larga experiência no exercício de sua profissão. Figura distinta, discreta, inteligente, retórico e de caráter ilibado, o promotor Cembranelli manifesta pleno conhecimento dos fatos e evidências que envolvem o caso, apresentando cautela e concisão em seus pronunciamentos. Sem almejar ou agir no sentido de se autopromover no cenário midiático, tornou-se o brilhante justiceiro que toda a população brasileira desejava neste caso tão complexo e pavoroso. Dentro e fora do tribunal, Cembranelli tem se conduzido de forma talentosa, desvendando mistérios sobre o caso, atacando a defesa com nobreza e lealdade, indicando para o conselho de sentença e para o povo brasileiro que não existem fatos que neguem a autoria do crime pelos réus. O outro elemento seria o advogado criminalista Roberto Podval, defensor dos Nardoni. Roberto Podval também tem aproximadamente 20 anos de carreira, como seu rival. Montou seu primeiro escritório em 1987. Atuou em casos de grande repercussão, como o do assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, e o caso do Banestado. Podval foi chamado a liderar a defesa dos réus e tenta, de forma desesperada, conseguir sua absolvição. Convocou 17 testemunhas, mas depois dispensou a maioria delas. Conforme a mídia divulga, Podval tem contra-atacado bastante, mas colhe sucessivas derrotadas. Embora tenha a seu lado uma assistente técnica, Roselle Soglio, que não é perita criminal, mas uma estudiosa no assunto, cuja função é contraditar os laudos apresentados, ele tem se apresentado inquieto, insatisfeito. Mesmo que negue, Podval demonstra-se derrotado, com o avançar dos trabalhos no tribunal. E não poderia ser diferente. Lutar contra fatos calcados em evidências materiais, analisadas e comprovadamente genuínas, causa a qualquer um, profundo desconforto.
O julgamento avança. Os réus serão ouvidos, separadamente, e talvez tenhamos surpresas.
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quinta-feira, 1 de abril de 2010
CASO ISABELLA (I)
Sem despertar celeuma relativa à doutrina ou crença religiosa, todos, em princípio, concordamos que um senhor rege nosso destino. Destino este, muitas vezes, divergente de nossas vontades. E as linhas que compõem este destino se cruzam, fazendo com que as vidas que por elas transitam, por mais diferentes e complexas que sejam, se encontrem, se entrelacem, de modo surpreendente. Este fato aconteceu, no dia 29 de março de 2008, cruzando as vidas de várias pessoas, de forma trágica e comovente.
Na referida data, em São Paulo, Isabella Nardoni, com cinco anos de idade, sofreu maus tratos e foi arremessada pela janela do apartamento onde morava seu pai, no 6º andar do edifício London. Filha de Ana Carolina Cunha de Oliveira com Alexandre Nardoni, a pequena Isabella passava o dia em companhia do pai e da madrasta, Anna Carolina Jatobá. Que se tem conhecimento não havia testemunha presencial nos momentos que decorreram o crime, exceto pela presença do pai e da madrasta. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jabotá apresentaram para a polícia na oportunidade uma versão dos fatos que os inocentava, entretanto, evidências materiais emergiram das trevas daquela noite que os colocaram como principais suspeitos da morte abominável de uma criança. Tornaram-se “estrelas hediondas” da mídia. A população brasileira ficou indignada e perplexa diante da apresentação dos fatos e daqueles que, supostamente, perpetraram crime tão bárbaro. Como um pai poderia permitir que a madrasta esganasse sua filha biológica diante de seus olhos, precipitando sua morte? Como um pai poderia após tal insanidade, ainda, defenestrar a própria filha pela janela de um dos quartos do apartamento onde morava? O que levaria um casal em sã consciência executar crime tão cruel? Estas foram algumas das inúmeras perguntas feitas pela sociedade e pelos agentes da justiça em relação ao caso Isabella. Perguntas que não querem calar. Não queremos aqui condená-los precipitadamente, de modo algum, mas há um velho ditado que diz: “contra fatos não há argumentos”. São muitas evidências, saliento, evidências materiais que foram encontradas pela perícia técnica na cena do crime. Evidências que indicam que Alexandre Nardoni e Anna Carolina foram os autores da morte de Isabella. Depois de indas e vindas, no certame judicial, no qual promotoria tentava manter presos e defesa queria o habeas corpus do casal, Alexandre e Anna Carolina Jatobá foram mantidos presos e assim permaneceram por dois anos. Não amarguraram na cadeia, segundo a própria imprensa. Gozaram de salvo conduto no meio dos presos e ainda tiveram mordomias atrás das grades, proporcionadas pelos muitos reais da família. O tempo passou, outros fatos relevantes assumiram o lugar nas manchetes e a sociedade quase esqueceu o caso, mas a mídia se encarregou de reavivá-lo nesta semana.
Na segunda-feira passada teve início no Fórum de Santana, na Zona Norte de São Paulo, o julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. A sessão do julgamento estava marcada para iniciar às 13h, mas iniciou-se por volta das 14h17, devido ao atraso de testemunhas e preparativos preliminares. Pelo que a mídia apresentou como provas materiais levantadas pela perícia, bem como, fatos relatados por testemunhas que comprometem a situação do casal acusado, e que possivelmente serão arroladas no julgamento, podemos perceber que o julgamento será uma guerra acirrada e “sangrenta”. Imaginem o Fórum de Santana como uma arena romana. Num lado, podemos ver a promotoria, munida de lanças, espadas, escudos, machados e toda a parafernália que dota um gladiador de força e poder. Poder de matar (condenar). Do outro lado, a defesa, despojada de armas, munida apenas de areia nas mãos, e disposição para gritar e correr. Correr até cansar (contestar e conturbar o julgamento, a fim de confundir jurados e conseguir a absolvição dos réus). Aparentemente será uma guerra desigual, mas, como juristas, advogados criminalistas e outros especialistas já afirmaram em entrevistas televisivas, tudo pode acontecer no tribunal do júri. Desde uma condenação justa, correta e precisa, até uma absolvição improcedente, desmedida, que coloque a Justiça e o Judiciário numa situação mais delicada do que eles já estão.
O certame apenas começou.
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