O julgamento da morte de Isabella Nardoni começou na segunda-feira, dia 22 de março, com o sorteio dos jurados, ato tecnicamente conhecido como conselho de sentença. Não ocorreram percalços nesta etapa. Logo depois se iniciou a inquirição de Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella. Foi uma inquirição longa e dolorosa, no sentido que diante dela estavam o pai de sua filha e a madrasta, supostos autores da morte de Isabella. Ana Carolina de Oliveira, desde a noite da morte de Isabella, diante das câmeras sempre se demonstrou muito amargurada, pois como tudo demonstra e nos permite deduzir, sua vida foi praticamente destruída pelo infortúnio ocorrido com a filha e, ainda, pelo fato de tornar-se uma pessoa de notoriedade. Sua vida nunca mais será a mesma. Ela não somente perdeu sua filha, mas sua privacidade. Sua existência será sempre lembrada pelos brasileiros, como a mãe da menininha que foi jogada pelo próprio pai pela janela de um apartamento na Zona Norte de São Paulo. Durante seu depoimento, Ana Carolina mostrou-se condoída, manifestou seu profundo amor de mãe, seu veemente pesar pela perda irreparável de sua filha. Segundo a mídia, ela chorou, copiosamente, numa manifestação genuína de que perdera mais do que parte de si mesma, muito mais do que isso. Do outro lado da sala, Alexandre Nardoni não parecia ser o pai de uma criança que morreu de forma trágica e iníqua. Impassível, aparentava serenidade, clara indiferença ao que relatava sua ex-namorada (eles não foram casados), como se nada daquilo se relacionasse com ele. Sentada ao lado, Anna Carolina Jatobá demonstrava-se tensa e aflita com o impacto que as respostas e afirmações de sua rival causavam no conselho de sentença. O depoimento de Ana Carolina de Oliveira impressionou o conselho de sentença a tal ponto que chegou a comover um dos jurados, e isso, certamente, desagradou o advogado de defesa Roberto Podval, pois colocou seus clientes em situação mais desvantajosa. E para a surpresa de todos nós que desconhecemos as sendas labirínticas da justiça, após o término do depoimento de Ana Carolina de Oliveira, o advogado Roberto Podval solicitou ao juiz Fossem que preside os trabalhos do júri, o cerceamento de sua liberdade, apesar do esgotamento físico e emocional da mãe de Isabella. Ele alegou necessidade de mantê-la à disposição da defesa, para uma possível acareação posterior com os réus. Embora legal, a atitude da defesa revoltou muitas pessoas, particularmente, a família de Ana Carolina de Oliveira. É algo lamentável, mas é uma das estratégias da defesa, e na guerra acirrada e “sangrenta” que me referi no artigo anterior, promotoria e defesa não dispensam armas que dispõem para a vitória. Esta estratégia infelizmente abalará ainda mais Ana Carolina de Oliveira, mãe desgastada e amargurada com a morte de sua bela filha.
O caso Isabella é marcado por dúvidas, como todo crime que envolve uma morte. De um lado os réus, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá alegam inocência, afirmando a existência de uma terceira pessoa na cena do crime. Como não há testemunha presencial, a promotoria, representada por Francisco Cembranelli, trabalha a linha de acusação em cima de provas materiais colhidas e analisadas pelo Instituto de Criminalística de São Paulo. E aí surge um irrefutável questionamento. Mesmo que Cembranelli prove a culpabilidade dos réus e tudo indica que isso ocorrerá devido a gama de evidências, fica uma incerteza, apesar de todas as evidências positivas: existiria realmente uma terceira pessoa na cena do crime, como alegam os réus, o verdadeiro autor da morte de Isabella, um assassino experiente que, segundo os laudos da perícia, não deixou rastros? Acredito que somente uma pessoa poderia esclarecer como tudo realmente aconteceu. Infelizmente, ela está enterrada no Cemitério Parque dos Pinheiros, em Jaçanã, bairro da capital paulista.
No contexto desta batalha judicial, travada passo a passo, na busca da justiça, podemos destacar dois elementos-chave. Um é o promotor Francisco Cembranelli que vem granjeando a simpatia, admiração e o carinho de todo o povo brasileiro. Logo nos primeiros momentos do caso Isabella, quando surgiu diante das câmeras, Francisco Cembranelli não procurou o melhor ângulo ou o foco dos holofotes. Queria, desde aquela oportunidade, esclarecer os fatos e cumprir, no melhor grau, o papel da justiça: apurar os fatos e punir o(s) responsável (eis) pela morte de Isabella Nardoni. Observando a vida pregressa de Francisco Cembranelli podemos constatar que ele tem vários méritos em aproximadamente 20 anos de carreira. Tendo participado de mais de 900 júris, obteve sucesso em quase todos, sendo reconhecidamente um profissional de primeira linha, competente e com larga experiência no exercício de sua profissão. Figura distinta, discreta, inteligente, retórico e de caráter ilibado, o promotor Cembranelli manifesta pleno conhecimento dos fatos e evidências que envolvem o caso, apresentando cautela e concisão em seus pronunciamentos. Sem almejar ou agir no sentido de se autopromover no cenário midiático, tornou-se o brilhante justiceiro que toda a população brasileira desejava neste caso tão complexo e pavoroso. Dentro e fora do tribunal, Cembranelli tem se conduzido de forma talentosa, desvendando mistérios sobre o caso, atacando a defesa com nobreza e lealdade, indicando para o conselho de sentença e para o povo brasileiro que não existem fatos que neguem a autoria do crime pelos réus. O outro elemento seria o advogado criminalista Roberto Podval, defensor dos Nardoni. Roberto Podval também tem aproximadamente 20 anos de carreira, como seu rival. Montou seu primeiro escritório em 1987. Atuou em casos de grande repercussão, como o do assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, e o caso do Banestado. Podval foi chamado a liderar a defesa dos réus e tenta, de forma desesperada, conseguir sua absolvição. Convocou 17 testemunhas, mas depois dispensou a maioria delas. Conforme a mídia divulga, Podval tem contra-atacado bastante, mas colhe sucessivas derrotadas. Embora tenha a seu lado uma assistente técnica, Roselle Soglio, que não é perita criminal, mas uma estudiosa no assunto, cuja função é contraditar os laudos apresentados, ele tem se apresentado inquieto, insatisfeito. Mesmo que negue, Podval demonstra-se derrotado, com o avançar dos trabalhos no tribunal. E não poderia ser diferente. Lutar contra fatos calcados em evidências materiais, analisadas e comprovadamente genuínas, causa a qualquer um, profundo desconforto.
O julgamento avança. Os réus serão ouvidos, separadamente, e talvez tenhamos surpresas.
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