Poucas pessoas sabem o que se comemora no dia 25 de julho. Tenha certeza que, se o Dia do Escritor se fosse feriado nacional, data que permitisse que todos abandonassem seus empregos e fossem à praia, ao futebol ou às compras, seria um dia lembrado por todos os brasileiros. Mas escrever é algo irrelevante para a maior parte da sociedade brasileira. Certamente esta é a razão de sermos um país “sempre” em desenvolvimento.
Escrever é uma forma de comunicação, de falar com as outras pessoas. Complexa, sem dúvida, mas não inatingível. Para muitas pessoas, escrever é um verdadeiro suplício. Quando elas têm que expressar suas ideias ou pensamentos através da escrita, para redigir uma simples carta ou redação escolar sentem imensas dificuldades. Para outras, escrever é algo muito simples, quando não percebem que o que escrevem não passa de bobagem, de texto sem estrutura e teor, ou ainda, quando julgam que aquilo que depositaram sobre o papel é algo criativo, inovador, formidável. Realmente, escrever para quem não gosta, não tem aptidão ou pendor, é atividade desconfortável, desagradável e entediante. Porque escrever é uma atividade que exige criatividade, entusiasmo, perseverança, equilíbrio e dedicação, qualidades imprescindíveis ao escritor. Aqueles que escrevem com seriedade e primor tentam, a duras penas, compartilhar equilíbrio, emoções, sentimentos, conhecimentos e apoio a seu semelhante. Escrever é atividade de criação a partir do nada, do papel em branco, imprimindo-lhe sinais gráficos, letras, que formarão palavras, que darão forma e conteúdo ao texto. Escrever uma narrativa ou redigir uma redação não é simplesmente colocar no papel aquilo que corre na mente como as torrentes de um ribeirão revolto. É harmonizar palavras, frases, dando-lhes teor, consistência, brilho estético, profundidade. Escrever com primor é tarefa de lapidação que nos obriga a ter disciplina, esmero, meticulosidade, mansidão e inesgotável paciência. Escrever não pode ser uma atividade encarada como bobagem, como idiotice como inúmeras pessoas julgam. É triste que pensem assim.
Escrever é um ofício menosprezado pela maioria dos brasileiros. Até porque poucas pessoas realmente leem. Elas acham que ler é perda de tempo, ainda mais escrever. Acham que a escrita é coisa inútil, improdutiva, que quem escreve é gente que não tem o que fazer, ociosa, que provavelmente não conseguirá publicar o que escreveu. Mas há pelo menos uma razão para a maioria da população pensar assim. Essa maioria não lê, não porque não gosta, mas porque não é incentivada. Os livros no Brasil são extremamente caros e não há interesse que o povo se torne culto, esclarecido. A classe dominante não deseja que a maioria empobrecida adquira conhecimentos, se torne culta, tenha consciência de princípios e valores morais. Quem sabe quer mais, entende mais, não aceita mais. Infelizmente, devido à conjuntura nacional o povo não tem dúvidas diante do dilema de comprar um livro ou um sanduíche para saciar a fome.
O escritor é um solitário, um ser incompreendido que busca na escrita seu alívio, sua alegria, sua realização. Quando senta diante do monitor ou da folha de papel, sua mente se liberta de todas as correntes que a manietam, expressando livremente o que circula em seu coração. Ele “confessa” seu íntimo ao próximo, sem se preocupar com o que ele ou outrem vão pensar de suas criações. Compartilha sem temor ou vergonha suas alegrias, ideias, emoções, angústias e medos. E apesar das dificuldades, das críticas mordazes, sua maior recompensa emerge de maneira vibrante quando é lido, mesmo que de forma irrelevante e descompromissada.
Muitos que escrevem se intitulam escritores, mas na realidade não o são. Não tem pendor, vocação. Emprestam suas ideias e pensamentos a terceiros que possuem o dom e com recursos financeiros publicam suas criações. Publicam, não são publicados. Na realidade não há mérito em suas obras. Talvez seja essa a razão porque, muitas vezes, compramos livros que depois da leitura nos arrependemos. Nem tudo que é publicado tem valor literário, agrada ao leitor.
Tornar-se um escritor reconhecido é tarefa hercúlea. Tantos escrevem com dedicação e primor, por anos, e nunca são reconhecidos por suas belas obras. Ser um escritor de renome é uma conquista imprevisível. É algo como acertar na loteria. Arrisca-se todas as semanas, mas ganhar sozinho todo o prêmio é fato que não se pode prever.
Que este dia não passe em branco, pelo menos nos corações dos escritores e daqueles que amam a literatura. Aos meus colegas de ofício, não desanimem, continuem a escrever e felicidades.